ATÉ HOJE NÃO MORREU
Autor: Luiz Alves
da Silva
Quero convidar você
Como um amigo fiel
Para viajar comigo
Pelo o mundo do cordel,
Nas asas da poesia
Saborear todo dia
Pequenos favos de mel.
Que o cordel ia morrer
Houve quem profetizou.
A profecia foi falsa,
Que não se realizou
E hoje ainda ele está vivo,
Mais forte, mais criativo
E a internet ajudou.
Ele só teve um descanso,
Dormiu um sono somente,
Mas depois que se acordou
Apareceu mais contente,
Demostrando animação,
Mudou até de feição
E agradou a muita gente.
Para entender o cordel,
Vamos fazer regressão.
Quando ele era conhecido
Pelo o povo do sertão:
Romance, contos de fadas,
Folheto de palhaçadas,
Ou feitos de lampião.
Ainda não tinha rádio,
Televisão não havia.
Casa que tinha cordéis
Lá toda noite se lia,
Reunia a vizinhança,
Era uma grande festança,
Onde reinava alegria.
Leandro Gomes de Barros,
Nosso grande pioneiro,
O criador do cordel
No estilo brasileiro
Fazia e distribuía
E em cada estado havia
Um agente folheteiro.
João Martins de Athayde
Foi ele o seu sucessor.
Na publicação dos livros
Foi um grande produtor.
O cordel se espalhava
E em todo lugar chegava
Sempre agradando o leitor.
Pelejas de repentistas
Muita gente apreciava.
Se o verso era interessante,
Tinha alguém que decorava,
Fosse sextilha ou martelo.
Quem ganhava no duelo
Sua fama se espalhava.
Tem a do Cego Aderaldo
Com Zé Pretinho do tucum.
Meu pai decorou os versos
Que o cego disse um por um.
Com a pisa que o cego deu
Zé Pretinho dali correu
E foi aquele zum, zum, zum.
Ainda lembro alguns livros
Que o meu pai possuía.
Toda semana comprava
Quando na feira ele ia.
A noite, junto aos vizinhos,
Escolhia alguns livrinhos
E para todos eu lia.
Livro de reino encantado,
De vaqueiro valentão,
As palhaçadas de Biu,
História do Boi Leitão,
O da louca do jardim,
O reino do mar sem fim
E João sem direção.
O herói João de Calais,
Princesa da Pedra
Fina,
O pavão misterioso,
O de Alonso e Marina,
Juvenal e o dragão,
José de Souza Leão
E de Vicente e Josina.
As proezas de João Grilo,
O valente Zé Garcia,
A donzela Teodora,
Coco verde e melancia,
Tubiba, o desordeiro,
E o soldado Guerreiro,
E o de João e a jia.
O de Pedro Malazarte
E o do rei e Camões,
O capitão do navio,
Vicente, o
Rei dos Ladrões,
Na minha mente guardei
Muitas coisas que herdei
Das boas recordações.
Cada coisa tem seu tempo,
Um velho proverbio diz.
O cordel andou em todos
Estados deste país,
Foi jornal, foi diversão,
Passando de mão em mão,
Fez muita gente feliz.
Alguns poetas tiveram
A própria tipografia
Onde fazia os cordéis
Da sua folheteria.
O agente o representava
E o folheteiro comprava
E pelas feiras vendia.
Foi em mil e novecentos
E setenta que caiu
A vendagem do cordel
E muito editor faliu.
O rádio, a televisão
Era a nova diversão,
Mas o cordel persistiu.
A Editora Luzeiro
Continuou publicando,
José Borges, em
Bezerros,
Também ficou editando,
O Costa Leite, em Condado,
Cada um no seu estado
Contra essa maré remando.
E assim vários poetas,
Cada um fez seu papel,
Mesmo sem fazer fortuna,
Para manter o cordel.
Fez das tripas coração
Para não deixar na mão
Aquele leitor fiel.
Eu ainda conheci
Os últimos folheteiros
Que iam de feira em feira
Dos estados brasileiros.
Zé Alves, Caruaru,
João Firmino, Aracaju
Andei com os dois guerreiros.
Parece que fui o último,
Sou chamado Gauchinho,
Que vendi cordéis nas feiras,
Mas por um tempo curtinho.
Mesmo amando a poesia,
Resolvi um certo dia
Seguir por outro caminho.
Fui ser locutor de rádio,
Ensinar religião.
Ainda escrevo cordéis
Apenas por diversão.
Hoje com maior prazer
Por ver ele florescer
Dentro da educação.
Hoje quase toda escola
Tem professor ensinando
Sobre o cordel brasileiro.
Muitos alunos gostando
E, nesta grande conquista,
Já tem muito cordelista
Seus livrinhos editando.
Meu desejo neste livro
É dar orientação
Para que você escreva
Um cordel com perfeição,
Para a pessoa que o ler
Logo possa perceber
Rima, métrica e oração.
Porque um cordel malfeito
Desincentiva o leitor,
Que passa a achar a obra
Algo sem nenhum valor.
Um livro para entreter
No enredo tem que ter
Ação, encanto e humor.
Nosso cordel brasileiro,
Desde os seus anos de glória,
Ele foi sempre um livrinho
Relatando uma história.
Poesia em cordel tem
Os mesmos versos também,
Mas segue outra trajetória.
Na poesia, o poeta
Escreve com sentimento
O que viu e o que sentiu
Tão ligeiro igual ao vento
Revela o que estava oculto.
Quem lê precisa ser culto
Para entender no momento.
O poeta popular
Ele é mais extrovertido,
Sua poesia é pura
Já traz consigo o sentido
Do que ele quer lhe falar
No jeito de versejar
Sendo assim compreendido.
Por exemplo Zé Limeira,
O famoso Zé da luz,
Patativa do Assaré,
Junta feijão com cuscuz
Faz um poema matuto,
Que até o sujeito culto
Com os seus versos seduz.
E cada modalidade
É usada paralela.
Uma relata uma história,
Outra, a poesia bela
E quem aprende a lição
Bom poeta se revela.
Leitores fiz um relato
Autêntico do folheteiro
Lutando para viver,
Vive esse grande guerreiro.
Esta é a trajetória
Sobre o cordel brasileiro.
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