quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

                                            NOSSO CORDEL BRASILEIRO

                                        ATÉ HOJE NÃO MORREU

                                         Autor: Luiz Alves da Silva

 

Quero convidar você

Como um amigo fiel

Para viajar comigo

Pelo o mundo do cordel,

Nas asas da poesia

Saborear todo dia

Pequenos favos de mel.

 

Que o cordel ia morrer

Houve quem profetizou.

A profecia foi falsa,

Que não se realizou

E hoje ainda ele está vivo,

Mais forte, mais criativo

E a internet ajudou.

 

Ele só teve um descanso,

Dormiu um sono somente,

Mas depois que se acordou

Apareceu mais contente,

Demostrando animação,

Mudou até de feição

E agradou a muita gente.

 

Para entender o cordel,

Vamos fazer regressão.

Quando ele era conhecido

Pelo o povo do sertão:

Romance, contos de fadas,

Folheto de palhaçadas,

Ou feitos de lampião.

 

Ainda não tinha rádio,

Televisão não havia.

Casa que tinha cordéis

Lá toda noite se lia,

Reunia a vizinhança,

Era uma grande festança,

Onde reinava alegria.

 

Leandro Gomes de Barros,

Nosso grande pioneiro,

O criador do cordel

No estilo brasileiro

Fazia e distribuía

E em cada estado havia

Um agente folheteiro.


João Martins de Athayde

Foi ele o seu sucessor.

Na publicação dos livros

Foi um grande produtor.

O cordel se espalhava

E em todo lugar chegava

Sempre agradando o leitor.

 

Pelejas de repentistas

Muita gente apreciava.

Se o verso era interessante,

Tinha alguém que decorava,

Fosse sextilha ou martelo.

Quem ganhava no duelo

Sua fama se espalhava.

 

Tem a do Cego Aderaldo

Com Zé Pretinho do tucum.

Meu pai decorou os versos

Que o cego disse um por um.

Com a pisa que o cego deu

Zé Pretinho dali correu

E foi aquele zum, zum, zum.

 

Ainda lembro alguns livros

Que o meu pai possuía.

Toda semana comprava

Quando na feira ele ia.

A noite, junto aos vizinhos,

Escolhia alguns livrinhos

E para todos eu lia.

 

Livro de reino encantado,

De vaqueiro valentão,

As palhaçadas de Biu,

História do Boi Leitão,

O da louca do jardim,

O reino do mar sem fim

E João sem direção.

 

O herói João de Calais,

Princesa da Pedra Fina,

O pavão misterioso,

O de Alonso e Marina,

Juvenal e o dragão,

José de Souza Leão

E de Vicente e Josina.

  

As proezas de João Grilo,

O valente Zé Garcia,

A donzela Teodora,

Coco verde e melancia,

Tubiba, o desordeiro,

E o soldado Guerreiro,

E o de João e a jia.

 

O de Pedro Malazarte

E o do rei e Camões,

O capitão do navio,

Vicente, o Rei dos Ladrões,

Na minha mente guardei

Muitas coisas que herdei

Das boas recordações.

 

Cada coisa tem seu tempo,

Um velho proverbio diz.

O cordel andou em todos

Estados deste país,

Foi jornal, foi diversão,

Passando de mão em mão,

Fez muita gente feliz.

 

Alguns poetas tiveram

A própria tipografia

Onde fazia os cordéis

Da sua folheteria.

O agente o representava

E o folheteiro comprava

E pelas feiras vendia.

 

Foi em mil e novecentos

E setenta que caiu

A vendagem do cordel

E muito editor faliu.

O rádio, a televisão

Era a nova diversão,

Mas o cordel persistiu.

 

A Editora Luzeiro

Continuou publicando,

José Borges, em Bezerros,

Também ficou editando,

O Costa Leite, em Condado,

Cada um no seu estado

Contra essa maré remando.


E assim vários poetas,

Cada um fez seu papel,

Mesmo sem fazer fortuna,

Para manter o cordel.

Fez das tripas coração

Para não deixar na mão

Aquele leitor fiel.

 

Eu ainda conheci

Os últimos folheteiros

Que iam de feira em feira

Dos estados brasileiros.

Zé Alves, Caruaru,

João Firmino, Aracaju

Andei com os dois guerreiros.

 

Parece que fui o último,

Sou chamado Gauchinho,

Que vendi cordéis nas feiras,

Mas por um tempo curtinho.

Mesmo amando a poesia,

Resolvi um certo dia

Seguir por outro caminho.

 

Fui ser locutor de rádio,

Ensinar religião.

Ainda escrevo cordéis

Apenas por diversão.

Hoje com maior prazer

Por ver ele florescer

Dentro da educação.

 

Hoje quase toda escola

Tem professor ensinando

Sobre o cordel brasileiro.

Muitos alunos gostando

E, nesta grande conquista,

Já tem muito cordelista

Seus livrinhos editando.

 

Meu desejo neste livro

É dar orientação

Para que você escreva

Um cordel com perfeição,

Para a pessoa que o ler

Logo possa perceber

Rima, métrica e oração.

  

Porque um cordel malfeito

Desincentiva o leitor,

Que passa a achar a obra

Algo sem nenhum valor.

Um livro para entreter

No enredo tem que ter

Ação, encanto e humor.


Nosso cordel brasileiro,

Desde os seus anos de glória,

Ele foi sempre um livrinho

Relatando uma história.

Poesia em cordel tem

Os mesmos versos também,

Mas segue outra trajetória.

 

Na poesia, o poeta

Escreve com sentimento

O que viu e o que sentiu

Tão ligeiro igual ao vento

Revela o que estava oculto.

Quem lê precisa ser culto

Para entender no momento.

 

O poeta popular

Ele é mais extrovertido,

Sua poesia é pura

Já traz consigo o sentido

Do que ele quer lhe falar

No jeito de versejar

Sendo assim compreendido.

 

Por exemplo Zé Limeira,

O famoso Zé da luz,

Patativa do Assaré,

Junta feijão com cuscuz

Faz um poema matuto,

Que até o sujeito culto

Com os seus versos seduz.

 

E cada modalidade

É usada paralela.

Uma relata uma história,

Outra, a poesia bela

E quem aprende a lição

Escreve com precisão,

Bom poeta se revela.

 

Leitores fiz um relato

Autêntico do folheteiro

Lutando para viver,

Vive esse grande guerreiro.

Esta é a trajetória

Sobre o cordel brasileiro.

 

 

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